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Stheffa
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Música – A filarmónica rasca
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Música – A filarmónica rasca
Desde miúdo, sempre gostei de música.
Aos 14 anos fui aprender a arte dos sons agradáveis ao ouvido. Comecei, obviamente, pelo solfejo e, depois, quando já dominava razoavelmente a leitura das notas de música -- as breves, semibreves, mínimas, semínimas, fusas, semifusas, colcheias e semicolcheias --, passei a exercitar-me no instrumento clarinete.
Foram muitas horas de sopradela e exercício dos dedos das mãos (excepto os polegares) para alcançar todas as chaves do instrumento que me permitiam produzir os tons exigidos pelas partituras.
Esta minha iniciação foi feita na banda de música, em formação, da extinta Mocidade Portuguesa de Portimão. O professor, que também dava aulas de canto coral no liceu da cidade, teve um trabalho árduo e meritório – formar de raiz uma banda de música com jovens que nada sabiam dessa arte. Chamava-se Fernandes, mas a rapaziada, entre si, depois de algumas visitas de estudo a sua casa e ver os diversos bustos de compositores célebres do século XIX que ele coleccionava, alcunhou-o o “maestro Berlioz” (grande compositor francês). Este baptismo não foi inspirado por alguma peça sinfónica que o Sr. Fernandes tivesse composto na linha melódica do compositor gaulês, mas sim porque o seu aspecto lembrava o busto de Berlioz visto por nós em sua casa.
A banda nascente, depois de alguns meses de preparação no salão de ensaios local e cuja vizinhança bem conhecia pelos dB(A) -- nível de ruído – produzidos, lá ficou em condições de se exibir em festejos quer pagãos quer religiosos. Nos dias feriados mais patrióticos, lá fazíamos a n/ arruada com a miudagem e melómanos mais entusiasmados a trás. Tocávamos diversas marchas e hinos de acordo com os festejos – o “1º de Dezembro” no dia da restauração, música “solene” em procissões, a “Maria da Fonte” e a “Portuguesa” em cerimonias inaugurais. De início, porque a experiência dos músicos era diminuta, duas marchas de fácil execução o maestro Fernandes compusera para nós e que, propositadamente, intitulara os ordinários “O Lusito” e “Os Pexotes”. Este último ordinário, que significa “ os inexperientes”, consagrava as n/ dificuldades de debutantes.
Um dia, foi a filarmónica convidada para ir tocar na inauguração de uma ponte junto à povoação de Santa Clara, nas faldas da serra de Monchique.
Alegres, lá partimos, manhã cedo, a caminho de Santa Clara, calcorreando o autocarro que nos transportou, a sinuosa mas pitoresca estrada que atravessa essa serra algarvia. Conta com mais de 100 curvas e contra-curvas essa via serrana. Não obstante a bela paisagem circundante em que surgiam profundos desfiladeiros e íngremes encostas cobertos de densa mata de eucaliptos e pinheiros (na altura), com o solo atapetado de fetos e outros arbustos onde pontilhavam medronheiros com as suas bagas rubro/douradas, lá percorremos, penosamente, o sinuoso caminho da serra.
Já na parte final do trajecto, parámos, por algum tempo, junto de uma fonte de água fresquinha sob árvores frondosas de acolhedoras sombras – a fonte da Amoreira. A água que aí brota é “férrea”, deixando no leito da vala por onde corre a caminho de uma ribeira, a cor castanha do óxido de ferro.
Todos os componentes da filarmónica “afogaram” a sede e, alguns, até a má disposição que os solavancos do autocarro nas famigeradas curvas tinham provocado.
Lembro-me de um dos colegas mais malandreco do grupo – o tocador de trompa Jerónimo – chamar-me a atenção para o perigo para a saúde por bebermos aquela água tão carregada de ferro. Dizia o engraçadinho, que um excesso daquela água no organismo humano poderia levar um indivíduo, que dela abusasse, a urinar arame farpado com consequentes arrepios na uretra!
Chegámos a Santa Clara quase ao fim da manhã. Recebidos com foguetório, lá fizemos uma arruada tocando o ordinário ”o Lusito”, de fácil execução, até à Casa do Povo local.
Depois do almoço, dirigimo-nos, em formação e tocando, para o exterior da povoação na direcção da ponte que iria ser inaugurada algumas horas depois. Ficámos junto do palanque onde iriam ser proferidos os discursos da praxe pelas forças vivas da terra e representante(s) do governo e lançada a bênção à nova ponte pelo representante do clero.
A cerimónia começou; nós (a filarmónica) executávamos o início do hino da Maria da Fonte musicando o final dos discursos também muito aplaudidos pelos espectadores. Estávamos rodeados por muita gente: as “forças vivas” da povoação e arredores, bombeiros da sede do concelho e muito povo. Os discursos continuavam num crescendo até à intervenção do membro do governo que presidia e encerraria a cerimónia. Não me lembro se era algum Secretário de Estado do eterno ministro das Obras Públicas de então – o Eng. Arantes e Oliveira, o ministro do chapéu –, ou o Governador Civil de Faro.
Como já estava a ser muito repetitiva a execução pela filarmónica do hino da Maria da Fonte, o maestro Fernandes entendeu mudar de acompanhamento musical os finais dos discursos e, voltando-se para a banda e de batuta em riste, disse em voz bem alta para todos os músicos ouvirem: --“Ordinário … Pexotes!”
Todas as pessoas que ali estavam e que não sabiam tratar-se do nome do trecho musical que iríamos executar, pensaram ser uma crítica aos “notáveis” oradores. Surpreendidas e reprovadoras, cochichando entre si, olharam com indignação para o n/ maestro Fernandes!
A língua portuguesa, por vezes, prega estas partidas…
Aos 14 anos fui aprender a arte dos sons agradáveis ao ouvido. Comecei, obviamente, pelo solfejo e, depois, quando já dominava razoavelmente a leitura das notas de música -- as breves, semibreves, mínimas, semínimas, fusas, semifusas, colcheias e semicolcheias --, passei a exercitar-me no instrumento clarinete.
Foram muitas horas de sopradela e exercício dos dedos das mãos (excepto os polegares) para alcançar todas as chaves do instrumento que me permitiam produzir os tons exigidos pelas partituras.
Esta minha iniciação foi feita na banda de música, em formação, da extinta Mocidade Portuguesa de Portimão. O professor, que também dava aulas de canto coral no liceu da cidade, teve um trabalho árduo e meritório – formar de raiz uma banda de música com jovens que nada sabiam dessa arte. Chamava-se Fernandes, mas a rapaziada, entre si, depois de algumas visitas de estudo a sua casa e ver os diversos bustos de compositores célebres do século XIX que ele coleccionava, alcunhou-o o “maestro Berlioz” (grande compositor francês). Este baptismo não foi inspirado por alguma peça sinfónica que o Sr. Fernandes tivesse composto na linha melódica do compositor gaulês, mas sim porque o seu aspecto lembrava o busto de Berlioz visto por nós em sua casa.
A banda nascente, depois de alguns meses de preparação no salão de ensaios local e cuja vizinhança bem conhecia pelos dB(A) -- nível de ruído – produzidos, lá ficou em condições de se exibir em festejos quer pagãos quer religiosos. Nos dias feriados mais patrióticos, lá fazíamos a n/ arruada com a miudagem e melómanos mais entusiasmados a trás. Tocávamos diversas marchas e hinos de acordo com os festejos – o “1º de Dezembro” no dia da restauração, música “solene” em procissões, a “Maria da Fonte” e a “Portuguesa” em cerimonias inaugurais. De início, porque a experiência dos músicos era diminuta, duas marchas de fácil execução o maestro Fernandes compusera para nós e que, propositadamente, intitulara os ordinários “O Lusito” e “Os Pexotes”. Este último ordinário, que significa “ os inexperientes”, consagrava as n/ dificuldades de debutantes.
Um dia, foi a filarmónica convidada para ir tocar na inauguração de uma ponte junto à povoação de Santa Clara, nas faldas da serra de Monchique.
Alegres, lá partimos, manhã cedo, a caminho de Santa Clara, calcorreando o autocarro que nos transportou, a sinuosa mas pitoresca estrada que atravessa essa serra algarvia. Conta com mais de 100 curvas e contra-curvas essa via serrana. Não obstante a bela paisagem circundante em que surgiam profundos desfiladeiros e íngremes encostas cobertos de densa mata de eucaliptos e pinheiros (na altura), com o solo atapetado de fetos e outros arbustos onde pontilhavam medronheiros com as suas bagas rubro/douradas, lá percorremos, penosamente, o sinuoso caminho da serra.
Já na parte final do trajecto, parámos, por algum tempo, junto de uma fonte de água fresquinha sob árvores frondosas de acolhedoras sombras – a fonte da Amoreira. A água que aí brota é “férrea”, deixando no leito da vala por onde corre a caminho de uma ribeira, a cor castanha do óxido de ferro.
Todos os componentes da filarmónica “afogaram” a sede e, alguns, até a má disposição que os solavancos do autocarro nas famigeradas curvas tinham provocado.
Lembro-me de um dos colegas mais malandreco do grupo – o tocador de trompa Jerónimo – chamar-me a atenção para o perigo para a saúde por bebermos aquela água tão carregada de ferro. Dizia o engraçadinho, que um excesso daquela água no organismo humano poderia levar um indivíduo, que dela abusasse, a urinar arame farpado com consequentes arrepios na uretra!
Chegámos a Santa Clara quase ao fim da manhã. Recebidos com foguetório, lá fizemos uma arruada tocando o ordinário ”o Lusito”, de fácil execução, até à Casa do Povo local.
Depois do almoço, dirigimo-nos, em formação e tocando, para o exterior da povoação na direcção da ponte que iria ser inaugurada algumas horas depois. Ficámos junto do palanque onde iriam ser proferidos os discursos da praxe pelas forças vivas da terra e representante(s) do governo e lançada a bênção à nova ponte pelo representante do clero.
A cerimónia começou; nós (a filarmónica) executávamos o início do hino da Maria da Fonte musicando o final dos discursos também muito aplaudidos pelos espectadores. Estávamos rodeados por muita gente: as “forças vivas” da povoação e arredores, bombeiros da sede do concelho e muito povo. Os discursos continuavam num crescendo até à intervenção do membro do governo que presidia e encerraria a cerimónia. Não me lembro se era algum Secretário de Estado do eterno ministro das Obras Públicas de então – o Eng. Arantes e Oliveira, o ministro do chapéu –, ou o Governador Civil de Faro.
Como já estava a ser muito repetitiva a execução pela filarmónica do hino da Maria da Fonte, o maestro Fernandes entendeu mudar de acompanhamento musical os finais dos discursos e, voltando-se para a banda e de batuta em riste, disse em voz bem alta para todos os músicos ouvirem: --“Ordinário … Pexotes!”
Todas as pessoas que ali estavam e que não sabiam tratar-se do nome do trecho musical que iríamos executar, pensaram ser uma crítica aos “notáveis” oradores. Surpreendidas e reprovadoras, cochichando entre si, olharam com indignação para o n/ maestro Fernandes!
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